terça-feira, abril 08, 2008

As esquerdas na América Latina

O século XXI revela um domínio curioso de regimes governamentais chamadosde esquerda nos principais países do continente americano como: Brasil,Venezuela, Argentina, Colômbia e Chile. Esta preferência está ligada,muitas vezes, a um forte desgaste nos partidos políticos tradicionais,ditos de direita.Sustentado por movimentos de resistência, os países latino-americanosestão experimentando a liderança estabelecida por regimes governamentais(reconhecidos pela forte oposição praticada aos modelos neoliberais doséculo XX) com objetivo de avançarem rumo ao desenvolvimentopolítico-econômico sólido e equilibrado.A década de 1980 representou um cenário de desenvolvimento do modeloneoliberal, adotado por muitos países latino-americanos. O neoliberalismogerou grande expectativa para a América Latina que estava em busca deestabilidade política e consolidação da economia.Por outro lado, nesse mesmo período iniciou-se uma grande resistênciasocial estabelecendo forte oposição ao modelo neoliberal. Entretanto, acrescente presença de oposição ao neoliberalismo não conseguiu frear aquebra econômica de países como Brasil, Chile, Colômbia, etc. Em 1975 osEstados Unidos perderam a guerra do Vietnã, fato que abalou sensivelmenteo governo americano. Em 1976, o então presidente dos EUA, Jimmy Cartermostrou-se defensor do fim da ditadura militar na América Latina efavorável ao regime democrático com objetivo de estabelecer novasdiplomacias político-econômicas.Na verdade, quando um país está sob regime de ditadura militar, um dosprimeiros sintomas negativos a ser revelado fica por conta do aumentosignificativo na dívida externa e também, uma gradual redução salarial dotrabalhador (perda do poder de compra). As ?páginas da História? revelamque o período pós-ditadura representou aos latino-americanos forteexpectativa pela democracia e surgimento de características como:liberdade de imprensa, fortalecimento do sindicalismo, greves freqüentes ea criação de novos órgãos, novos partidos políticos.O experimento da democracia trouxe paradigmas aos países da AméricaLatina. A expectativa certa de justiça mostrou-se insuficiente paraprovocar melhorias no cenário econômico desses países. A democracia nãoevitou, por exemplo, o aparecimento de moratórias, crise financeira eaumento considerável do desemprego.Diante deste panorama, os partidos tidos como tradicionais (em sua grandemaioria conhecidos como de ?direita?) começaram a perder espaço e aapresentar enfraquecimento de sua credibilidade no cenário político. Essemesmo desgaste acabaria fornecendo elementos que mais tarde explicariam apresença de partidos políticos de ?esquerda? ou ditos de esquerdasagrando-se vitoriosos em diversos processos eleitorais.O neoliberalismo somou-se à democracia e abriu espaço para um crescimentomuito freqüente de movimentos sociais. A resistência popular passou afazer parte de maneira mais presente na história da América Latina. NaArgentina de 2001 pôde-se ter uma idéia desta reação popular frente àcrise econômica e política instalada no país.A Venezuela, sob governo de Chávez, é um exemplo de governo de esquerdaque beneficiou-se do desgaste de partidos ditos tradicionais venezuelanos.Mesmo com a tentativa do Golpe de Estado sofrido 1992, o presidentevenezuelano mostrou-se ainda mais forte após ter ficado por 72 horaspreso. Chávez procurou popularizar às ?diretrizes oficiais do Estado?,fornecendo acesso da informação as classes mais pobres do país. Opresidente venezuelano também traçou um plano de melhor distribuição derenda baseado na redefinição dos lucros obtidos pela PDVSA (uma espécie dePetrobrás da Venezuela). Vale lembrar que a Venezuela é o atual 4ºprodutor de petróleo mundial. O maciço apoio manifestado pela população naépoca da tentativa de Golpe ficou conhecido como chavismo.Parte dos recursos da empresa petrolífera foram destinados a programassociais. Chávez conseguiu aliar sua proposta política a satisfação damassa populacional mais necessitada (certa de 79% da população) reduzindoo índice de analfabetismo e de pobreza dos venezuelanos.O Brasil do século XXI é outro modelo onde revela também o desgaste departidos tradicionais como PSDB, PFL, PL, dentre outros. Diante doenfraquecimento da credibilidade desses partidos, o PT ? partido dostrabalhadores (tido como principal oposição à direita) sagrou-se vitoriosoao conseguir eleger seu candidato, Luis Inácio Lula da Silva, a presidenteda república em 2002. Sua eleição mostrou superioridade constante emcomparação aos principais adversários, ganhou com folga de 62% dos votosválidos em relação ao principal candidato do PSDB, José Serra. Em 2006,Lula foi reeleito e mais uma vez venceu com tranqüilidade seu adversáriomais ?perigoso?, também do PSDB, Geraldo Alkimin.Em meados de 2001 a Argentina foi protagonista de um fracasso políticoliderado pelo então presidente De la Rúa, defensor do regime neoliberalamparado pelo programa de ampla privatização das empresas estatais. Em2001, cerca de 80% da população argentina estava mergulhada na miséria e20% detinham toda riqueza produzida pelo país. A privatização dapetrolífera YPF foi o maior golpe proferido ainda pelo governo de CarlosSaul Menem ao país. Com a privatização, milhares de empregos foramfechados e o endividamento externo da Argentina aumentou de maneiraimpressionante. Néstor Kirchner pegou a ?batata quente? e tomou variasmedidas com objetivo de conter a crise argentina. Uma das primeirasmedidas foi negociar o pagamento da dívida externa do país. Kirchnerapostou nas exportações de grãos, setor que movimenta bilhões de dólarespara o país devido à super valorização dos produtos comercializados.As providências tomadas por Néstor podem não terem sido suficientes, masfoi o bastante para ?ganhar? a aprovação do povo, tanto que desde 10 dedezembro de 2007, Cristina Kirchner passou a ser presidente da Argentina eninguém tem dúvidas de que ela dará continuidade ao programa político eeconômico iniciado anteriormente.Há 60 anos que a América Latina não apresentava freqüente reação social,freqüente oposição aos governos. A política de ?esquerda?, ou ditaesquerda, nunca tomou tanto espaço no cenário político dos paíseslatino-americanos. Isto não quer dizer que seja o caminho certo, ou ocaminho da reação da democracia. As enormes reservas de dólares no Brasilatual não refletem uma melhora na condição da população mais carente.Talvez reflita sim, numa redução da dívida externa, que seria tão bomsenão tivesse aumentando significativamente a dívida interna do país.

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