quarta-feira, abril 23, 2008

Jandira Feghali: Paternidade da dengue

Jandira Feghali
Rio - Até aqui, muito foi discutido sobre a responsabilidade de uma epidemia anunciada há mais de dois anos. Sabemos, como disse o sanitarista Sérgio Arouca em 1986, que o mosquito não é municipal, estadual ou federal. Como médica vinculada há 28 anos às lutas e formulações de políticas públicas de saúde, sinto-me na obrigação de me somar àqueles que afirmam a omissão do Poder Público municipal como responsável maior pelo drama vivido hoje pela população carioca.
Mas exatamente por esse drama é que considero fundamental que deixemos de lado o debate que apenas nos remete aos culpados, pois já os conhecemos e devem ser punidos, e trabalhemos pela superação das dificuldades com quem queira ajuda, reduzir o número de casos e salvar vidas, principalmente de crianças. O povo é solidário e empurrará os governos para ações mais rápidas e emergenciais.
Decisões judiciais não são discutíveis; estão aí para ser cumpridas. Os postos de saúde têm que abrir 24 horas. Que se abram também os Cieps e os clubes para o atendimento. Que o setor empresarial contribua para fazer telhados em lajes que não acumulem água, que a companhia de limpeza faça um arrastão em ferros-velhos e sucatas abandonadas em vias públicas. Que se estimule a doação de sangue, com campanhas nos meios de comunicação. Que se contratem profissionais com remuneração digna e condições de trabalho. Isto se constitui numa obrigação, e não favor, pois não se faz saúde sem gente. E, se necessário, que se decrete Estado de Emergência.
Todo o trabalho deve ser focado em atendimento e prevenção, para que não tenhamos situação pior em dezembro e janeiro de 2009. Como mãe de dois filhos, sinto-me identificada com as mulheres que choram seus filhos. Minha solidariedade.

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